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Hereditary – Review

Oi,

 

Esse filme foi mais uma surpresa boa que tive esse ano, me falaram que valia a pena assistir no cinema e resolvi dar uma chance. Valeu mais do que a pena. Quero aproveitar pra falar algo que me incomoda muito que é quando a pessoa fala que o filme é fraco ou ruim porque não teve muito sangue, mortes exageradas e cabeças rolando. Não existe só um tipo de terror e a quantidade de violência que tem no filme está longe de definir o quão pesado ele é. Alguns filmes de terror psicológico são infinitamente mais pesados que vários slashers sem precisar derramar uma única gota de sangue. Digo isso porque quando comentei no twitter e no instagram que assisti ao filme algumas pessoas falaram que acharam ele ruim e eu perguntei o motivo. E todas elas falaram a mesma coisa: “estava esperando mais mortes, algo mais sangrento, achei fraco.” Você não pode ir assistir um terror psicológico esperando um slasher… se você se decepciona tão fácil assim ao ponto de ignorar todo o roteiro genial do filme só por não ter tanto sangue quanto você queria ou não ter se apoiado em jumpscares e clichês de paranormalidade pra você sentir medo deveria pesquisar bem a proposta dele antes de assistir né? Eu não sou uma pessoa fácil de impressionar, não é qualquer filme que eu acho pesado. E esse filme tem uma carga emocional pesadíssima e o roteiro é mais cruel na essência do que qualquer filme de violência gratuita. Terror vai além do que sangue jorrando pra tudo quanto é lado e sustos óbvios e constantes. O melhor tipo de terror pra mim é aquele que explora nossos medos mais reais.

Hereditary (2018) – escrito e dirigido por Ari Aster e do mesmo produtor de The Witch (resenha aqui), o filme já começa com um clima desconcertante e sombrio em um funeral onde nos é apresentada a família de Annie (Toni Collete) composta pelo seu marido Steve (Gabriel Byrne) e seus filhos Peter (Alex Wolff) e Charlie (Milly Shapiro) se despedindo de sua mãe idosa. Desde o início a atmosfera palpável do filme te puxa pra dentro e te deixa com a sensação constante de que algo horrível está acontecendo e algo pior ainda vai acontecer mas você não sabe ainda o que é. O filme não se apoia em jumpscares e sim em uma atmosfera atordoante e pesada junto com uma trilha sonora ensurdecedora e impecável que te faz ficar grudado na cadeira e desconfiar de praticamente tudo que vê. Há quem diga que não achou o filme violento o suficiente mas eu discordo muito, pois além de um roteiro totalmente diabólico e macabro o filme possui cenas de violência explícita, apesar de focar mais no terror psicológico. Antes de chegar no seu desfecho e virar totalmente para o horror sobrenatural, o filme é mais voltado para o horror/drama familiar e mostra uma família totalmente desajustada tendo que lidar com o luto e uma sequência de acontecimentos horríveis que vão te deixar com um aperto no peito e gosto ruim na boca. A família de Annie possui um histórico de problemas psicológicos/psiquiátricos e o filme foca bastante nessa herança que é herdada e transmitida de geração para geração e o medo, ansiedade e todo ressentimento que isso pode causar nas pessoas. Desde o comecinho o diretor planta a sementinha do medo na nossa mente e ela vai crescendo e acumulando junto com a tristeza, angústia e bizarrice enraizada na casa e nos personagens. Tudo funciona muito bem no filme. O roteiro, as atuações (principalmente de Toni Collete que leva o filme inteiro nas costas com uma atuação impecável), trilha sonora, cenários, efeitos e um clima sufocante que foi retratado tão perfeitamente que é como se você estivesse lá. Essa transição do horror/drama familiar para o sobrenatural pode ter ficado meio confusa para espectadores mais desatentos que acabam não captando todos os detalhes da história de primeira. Na medida que o horror sobrenatural se instala cada vez mais são inseridos elementos grotescos e perturbadores. Aconselho a ficar bem atento e prestar bem atenção do começo ao fim, para não ficar se sentindo meio perdido nesse momento. O diretor soube usar muito bem o tempo para desenvolver a trama e construir bem os personagens e seus dramas antes de instalar completamente a ameaça sobrenatural. Não é um filme fácil de assistir e vai destruindo pouco a pouco a sua esperança por qualquer tipo de final feliz (assim que eu gosto). Eu particularmente estou amando essa nova safra de terror onde o psicológico é mais explorado e bem trabalhado do que apenas sustos sem sentido e mortes. Não deixem de assistir. É um filme que não traz apenas demônios paranormais, mas também os que vivem dentro de nós.

Até.

Incident in a Ghost Land – Review

Oi,

 

Me recomendaram esse filme esses dias e quando fui pesquisar e vi que era do mesmo diretor de Martyrs (2008), que é um dos meus filmes favoritos da vida, fui correndo baixar e fiquei morrendo de vontade de assistir. Para minha surpresa, bem diferente da maioria dos filmes, ele já começa num ritmo frenético e continua assim até o fim, deixando pouco tempo pra respirar e absorver o que está acontecendo. Lógico que comparando com a obra-prima que é Martyrs, deixa um pouco a desejar porém eu achei excelente e foi um dos melhores que vi esse ano até agora.

Incident in a Ghost Land (Ghostland), 2018 – Escrito e dirigido por Pascal Laugier, o filme conta a história de Colleen (Mylène Farmer), que após a morte de sua tia herda a casa da falecida e se muda pra lá com suas duas filhas: Beth e Vera (Crystal Reed e Anastasia Phillips). Logo na primeira noite na casa, a vida das 3 muda de uma forma trágica e isso acaba afetando as personalidades das duas meninas profundamente pra sempre. O filme já começa impactante e te deixa hipnotizado. A sensação de tensão, medo e desespero é passada perfeitamente para o espectador. Laugier sabe como ninguém como torturar e prender o seu público na cadeira. Aprendi isso em Martyrs. Ele não pega leve na hora de pesar a mão na brutalidade e não tem medo nenhum de traumatizar quem está assistindo. Um roteiro digno de deep web. As atuações são super afiadas e o filme é bem dinâmico e preciso. Não fica chato nem cai no tédio em nenhuma parte. Não posso deixar de citar que logo na primeira cena do filme Lovecraft é citado e já me conquistou, porém não achei que tiveram tantas referências como eu gostaria. Indigesto, perturbador, doentio e cruel. Ainda levanta algumas questões sobre alguns problemas psicológicos. Como quando uma pessoa que sofre algum trauma, inconscientemente, acaba usando sua própria mente como refúgio. Não deixem de assistir.

 

Até.

The Eyes of My Mother – Review

Oi,

 

Vocês não imaginam a minha felicidade sempre que assisto um filme de terror bom o suficiente que me deixe com vontade de postar aqui. Comentei esses dias que está mais fácil encontrar a felicidade do que um filme de terror bom atual. Mas eu sou insistente e sempre encontro alguma coisa por aí. Desde que bati os olhos nesse filme eu tive certeza que eu ia gostar mas não imaginei que seria tanto e foi bem diferente do que eu esperava mas de uma maneira positiva. Não sei como não assisti ele antes.

The Eyes of My Mother (2016): escrito e dirigido por Nicolas Pesce, o filme é um conto mórbido sobre a solidão e a maldade humana dividido em três partes (Mãe, Pai, Família) que conta a história da jovem Francisca (Kika Magalhães) que acabou ficando sozinha na fazenda em que vivia com sua família. A fotografia do filme é belíssima e o fato de ser em preto e branco deixa tudo mais incômodo, intragável e perturbador. A atmosfera sombria e silenciosa em conjunto com a tensão do roteiro vai te causar uma sensação de mal-estar do começo ao fim. Apesar do filme se passar em uma fazenda isolada nos EUA, a família possui laços com Portugal e os personagens falam Inglês e Português. Eu enxerguei na Francisca um pouco de Norman Bates (Psycho) e me remeteu muito aos filmes The Night of the Hunter do Charles Laughton e Kárhozat do Béla Tarr, o que me fez gostar mais ainda do filme. Ao longo dos três atos podemos observar o crescimento da personagem e a sua psicopatia aflorando aos poucos. Apesar da violência não muito explícita, não anula nada o quão doentio esse filme é. Não possui muitas falas e mesmo assim consegue proporcionar um clima inquietante. São 76 minutos de filme e vale cada segundo assistido. Não é nada previsível e também não é um filme para todos.

“A solidão pode fazer coisas estranhas com a mente.” O filme retrata a dor da perda, o medo da solidão e as consequências catastróficas que isso pode causar na mente de uma pessoa. Delicado, poético, tenebroso e perturbador. Não deixem de assistir.

   

até a próxima.

E se os gatos desaparecessem no mundo?

Oi.

 

Hoje eu vim trazer um filme um pouquinho diferente dos que eu costumo indicar aqui. Apesar de ser fã de horror no geral, não é só esse tipo de filme que assisto. Quando li o título desse filme eu logo já torci meu nariz e me fechei totalmente pra ele. Mas fiquei instigada e acabei assistindo. Como uma amante dos gatos, foi o título mais assustador que já vi na vida.

If Cats Disappeared From The World (Sekai Kara Neko Ga Kietanara), 2016 – Um filme japonês baseado no romance “Sekai Kara Neko ga Kieta nara” do produtor Genki Kawamura (que é um dos produtores dessa adaptação realizada por Toho) e dirigido por Akira Nagai, conta a história de um carteiro sem nome (Takeru Sato) que mora sozinho com seu gato e descobre estar com um tumor cerebral inoperável e mortal. Ele só possui alguns dias de vida. Ao chegar em casa, se depara com uma “cópia” dele mesmo sentada no sofá. O “visitante” em essência soa como o diabo e afirma para o carteiro que ele morrerá no dia seguinte. Porém, faz uma proposta quase que irrecusável. Ele terá um dia a mais de vida por cada coisa que ele permitir que o demônio remova da face da terra. A partir daí, o protagonista começa a perceber aos poucos o que importa realmente na vida e como uma pequena coisinha pode mudar o rumo de tudo. Entra em uma jornada de lembranças de suas experiências com amigos, familiares e relacionamentos amorosos. Pouco a pouco ele vai sentindo a solidão tomar conta e percebe que certas coisas são insubstituíveis e de nada vale estar vivo sem elas. O filme é um pouco parado pra quem não está acostumado com filmes japoneses, mas o roteiro é muito envolvente. Um verdadeiro drama existencialista. Apesar das implicações desastrosas com o nome, não é um filme sobre gatos desaparecendo (ufa!). E se você for amante dos felinos como eu, vale muito a pena assistir. O filme é muito sensível e possui uma grande profundidafe emocional. Seria muito fácil se livrar de coisas que não se gosta e logicamente não é assim que funciona.

“Para conseguir alguma coisa temos que perder alguma coisa.”

O “diabo” que escolhe o que vai tirar e são sempre coisas de grande valor emocional para o protagonista que quando são apagadas, todas as conexões e lembranças relacionadas também desaparecem, levando com elas amores e amizades muito importantes. Cada item retirado nos faz mergulhar cada vez mais dentro da mente do protagonista.

“Se os gatos desaparecessem no mundo, como esse mundo mudaria?
Se eu desaparecer no mundo, quem na terra ficaria triste por mim? “

O filme foi gravado em Hakodate e Hokkaido, no Japão; Buenos Aires e Cataratas do Iguaçu. A fotografia é maravilhosa. E de quebra temos a companhia de gatinhos lindos e companheiros daquele jeitinho só deles. Que só quem tem gato vai entender quando ver. Meu coração ficou muito quentinho com algumas cenas. O filme passa uma mensagem linda sobre a vida.

Assistam e me contem depois. 🙂

A Ghost Story – Review

Oi,

Tenho tanto filme pra indicar que demorei mais ainda pra postar por não saber por onde começar. Decidi postar primeiro então um filme que ficou comigo por bastante tempo depois que eu assisti. É um daqueles filmes que talvez você não entenda, mas nunca vai esquecer.

A Ghost Story (2017) – Escrito e dirigido por David Lowery e protagonizado por Casey Affleck e Rooney Mara, o filme possui uma atmosfera melancólica do começo ao fim. É uma história de fantasma contada de um ponto de vista totalmente diferente. Casey Affleck (aqui conhecido como “C”) é um homem que depois que morre em um acidente, vira um fantasma (com direito a lençol branco e dois furinhos nos olhos) e começa a coabitar com sua amada Rooney Mara (“M”) na casa em que moravam. Sem conseguir se comunicar com ela, mesmo querendo desesperadamente, ele passa os dias observando tudo acontecer. Seria essa uma visão do purgatório? O filme ilustra de forma brilhante a passagem do tempo, além da memória, do luto, da solidão e da perda. A singularidade do roteiro te deixa sem palavras e com uma sensação de vazio tão grande que desperta todos os seus maiores medos a respeito de distanciamento físico e emocional.

É um filme tão solitário que vai crescer em você e te acompanhar por muito tempo. Vai te dar arrepios de um jeito totalmente diferente do que outros filmes do gênero já deram algum dia. Ele possui também um alívio cômico em que em algumas cenas ironiza situações clássicas de filmes de assombração. A fotografia e trilha sonora nos arremessam direto pra dentro do filme. Todas as músicas se encaixam de forma genial em cada cena. Ele foi gravado em uma resolução 4:3 para retratar perfeitamente a sensação de claustrofobia sentida pelo fantasma. As variações de cores entre tons frios e quentes usadas em cada momento para retratar exatamente o que o diretor quis nos passar é impossível de não ser notada. A fotografia é tão impecável que consegue transmitir perfeitamente tudo que o fantasma sente embaixo do lençol mesmo sem aparecer. É uma figura totalmente desolada e estática, olhando tudo a sua volta com uma tristeza incompreensível enquanto o tempo passa e o mundo inteiro vai mudando em torno dele e ele é deixado totalmente no limbo. Novos moradores se mudam para a casa, os anos viram séculos e o tempo começa a perder todo o sentido.

O filme possui poucos personagens, praticamente um cenário e quase nenhum diálogo e mesmo assim transmite com maestria todas as sensações e ideias. A narrativa é um pouco lenta mas é muito eficiente. Não é um filme pra qualquer um, mas eu recomendo muito e prometo que vocês não vão esquecer dele tão cedo. Eu acho que Lowery conseguiu transmitir profundamente como realmente é estar morto.

Espero que vocês gostem e sintam ele tanto quanto eu gostei e senti.

Até a próxima, deixem comentários.