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Coringa (Joker) – Review

Oi.

Eu gosto quando um filme permanece assombrando minha mente depois de dias. É assim que eu sei que ele é verdadeiramente bom. São tantas camadas para analisar que eu precisaria assistir muitas outras vezes para conseguir transmitir pelo menos 1/3 do que eu senti. Só sei que doeu. Espero que as pessoas entendam a profundidade, importância e impacto desse filme. Ainda estou procurando palavras. Um dos melhores estudos de personagem que eu já vi e sem dúvidas o melhor filme que eu assisti esse ano. Apesar de ser um vilão e um personagem de HQ, a abordagem usada não foi nada parecida com a que todos estão acostumados a ver nos filmes do gênero. Ansiosa por mais filmes com o selo DC Black.

CORINGA (Joker), 2019 – dirigido e escrito por Todd Phillips em parceria com Scott Silver, conta a história de Arthur Fleck (Joaquin Phoenix), que durante o dia trabalha como palhaço nas ruas e de noite luta para se tornar um comediante de stand-up. Fleck também mora e cuida de sua mãe doente (Frances Conroy). Dentre vários problemas mentais, ele também tem um distúrbio neurológico que o faz rir descontroladamente de coisas que não são engraçadas e em momentos de tensão, tornando várias interações que ele tem extremamente desconfortáveis e dolorosas. Suas tentativas de controlar as risadas em situações de perigo em meio a tosses e olhares de pânico são desesperadoras. Essas risadas começam a ecoar pela nossa alma no decorrer do filme.

“The worst part about having a mental illness is people expect you to behave as if you don’t.”

Desde as primeiras cenas o filme te faz se sentir tão mal com o desprezo e descaso diário que ele recebe da sociedade que você acaba se colocando no lugar dele e desenvolve uma simpatia pela angústia que ele sente. Tudo que poderia dar errado, deu. Não que isso justifique alguma coisa. A atuação de Joaquin Phoenix é tão magistral que nos coloca em uma situação difícil de conflito emocional. Mesmo sabendo que o que ele faz é errado, ainda sentimos pena dele de alguma forma. E é meio perturbador sentir empatia por um vilão tão sombrio. Ele soube retratar perfeitamente uma pessoa que tentou ter uma vida normal e falhou, que perde e apanha todos os dias, que foi criada entre abusos, rejeição, em meio ao caos, sem recursos para se tratar, totalmente esquecida socialmente e que vive constantes humilhações. Um estudo perfeito de personagem e de como a sociedade pode afetar diretamente a vida de uma pessoa.

“Basta ter um dia ruim para transformar o mais são dos homens em um lunático. É a essa distância que o mundo está de mim, apenas um dia ruim.”

Essa frase do quadrinho “A Piada Mortal” de Alan Moore ecoa durante o filme inteiro…

O filme se passa na caótica e corrupta cidade de Gotham nos anos 80, onde pobreza, ilegalidade e “super ratos” correm desenfreados. Achei incrível mostrarem uma Gotham mais suja e urbana. Tecnicamente impecável em termos cinematográficos. Fotografia forte e densa que retrata muito bem uma Gotham imunda e uma iluminação que soube valorizar perfeitamente os momentos de glória do Coringa e os de decadência e depressão de Arthur. Trilha sonora importantíssima e pontual que elevou tudo a um nível sufocante e imersivo. Roteiro muito bem estruturado e sem pontas soltas. 10/10. A essência do palhaço assassino foi capturada com êxito.

Joker é uma obra de ficção, é um vilão de uma história em quadrinhos. Não acho que o filme seja um incentivo a violência nem nada do tipo. Acho que o filme fala sobre a falta de cuidado com o próximo, da sociedade doente em que vivemos, da falta de recursos e assistência adequada para as pessoas que sofrem com transtornos mentais e da maneira que são excluídas, de como só dão atenção quando algo extremo acontece, da violência impiedosa (física e mental) que a sociedade inflige nos outros, entre várias outras coisas. Eu entendo o choque das pessoas, porque apesar de se tratar do Coringa, que é um personagem perturbado em sua essência e não é novidade pra ninguém, o filme foi feito de uma maneira bem mais real. A violência dele é muito mais chocante porque é muito mais crua, humana e próxima da realidade em que vivemos. Bem diferente dos filmes de super-heróis que todos estão acostumados. É Gotham, mas poderia ser qualquer outra cidade em colapso. É o Coringa, mas poderia ser qualquer pessoa.

e vocês, o que acharam?

Até a próxima.