Monthly Archives: julho 2018

Hereditary – Review

Oi,

 

Esse filme foi mais uma surpresa boa que tive esse ano, me falaram que valia a pena assistir no cinema e resolvi dar uma chance. Valeu mais do que a pena. Quero aproveitar pra falar algo que me incomoda muito que é quando a pessoa fala que o filme é fraco ou ruim porque não teve muito sangue, mortes exageradas e cabeças rolando. Não existe só um tipo de terror e a quantidade de violência que tem no filme está longe de definir o quão pesado ele é. Alguns filmes de terror psicológico são infinitamente mais pesados que vários slashers sem precisar derramar uma única gota de sangue. Digo isso porque quando comentei no twitter e no instagram que assisti ao filme algumas pessoas falaram que acharam ele ruim e eu perguntei o motivo. E todas elas falaram a mesma coisa: “estava esperando mais mortes, algo mais sangrento, achei fraco.” Você não pode ir assistir um terror psicológico esperando um slasher… se você se decepciona tão fácil assim ao ponto de ignorar todo o roteiro genial do filme só por não ter tanto sangue quanto você queria ou não ter se apoiado em jumpscares e clichês de paranormalidade pra você sentir medo deveria pesquisar bem a proposta dele antes de assistir né? Eu não sou uma pessoa fácil de impressionar, não é qualquer filme que eu acho pesado. E esse filme tem uma carga emocional pesadíssima e o roteiro é mais cruel na essência do que qualquer filme de violência gratuita. Terror vai além do que sangue jorrando pra tudo quanto é lado e sustos óbvios e constantes. O melhor tipo de terror pra mim é aquele que explora nossos medos mais reais.

Hereditary (2018) – escrito e dirigido por Ari Aster e do mesmo produtor de The Witch (resenha aqui), o filme já começa com um clima desconcertante e sombrio em um funeral onde nos é apresentada a família de Annie (Toni Collete) composta pelo seu marido Steve (Gabriel Byrne) e seus filhos Peter (Alex Wolff) e Charlie (Milly Shapiro) se despedindo de sua mãe idosa. Desde o início a atmosfera palpável do filme te puxa pra dentro e te deixa com a sensação constante de que algo horrível está acontecendo e algo pior ainda vai acontecer mas você não sabe ainda o que é. O filme não se apoia em jumpscares e sim em uma atmosfera atordoante e pesada junto com uma trilha sonora ensurdecedora e impecável que te faz ficar grudado na cadeira e desconfiar de praticamente tudo que vê. Há quem diga que não achou o filme violento o suficiente mas eu discordo muito, pois além de um roteiro totalmente diabólico e macabro o filme possui cenas de violência explícita, apesar de focar mais no terror psicológico. Antes de chegar no seu desfecho e virar totalmente para o horror sobrenatural, o filme é mais voltado para o horror/drama familiar e mostra uma família totalmente desajustada tendo que lidar com o luto e uma sequência de acontecimentos horríveis que vão te deixar com um aperto no peito e gosto ruim na boca. A família de Annie possui um histórico de problemas psicológicos/psiquiátricos e o filme foca bastante nessa herança que é herdada e transmitida de geração para geração e o medo, ansiedade e todo ressentimento que isso pode causar nas pessoas. Desde o comecinho o diretor planta a sementinha do medo na nossa mente e ela vai crescendo e acumulando junto com a tristeza, angústia e bizarrice enraizada na casa e nos personagens. Tudo funciona muito bem no filme. O roteiro, as atuações (principalmente de Toni Collete que leva o filme inteiro nas costas com uma atuação impecável), trilha sonora, cenários, efeitos e um clima sufocante que foi retratado tão perfeitamente que é como se você estivesse lá. Essa transição do horror/drama familiar para o sobrenatural pode ter ficado meio confusa para espectadores mais desatentos que acabam não captando todos os detalhes da história de primeira. Na medida que o horror sobrenatural se instala cada vez mais são inseridos elementos grotescos e perturbadores. Aconselho a ficar bem atento e prestar bem atenção do começo ao fim, para não ficar se sentindo meio perdido nesse momento. O diretor soube usar muito bem o tempo para desenvolver a trama e construir bem os personagens e seus dramas antes de instalar completamente a ameaça sobrenatural. Não é um filme fácil de assistir e vai destruindo pouco a pouco a sua esperança por qualquer tipo de final feliz (assim que eu gosto). Eu particularmente estou amando essa nova safra de terror onde o psicológico é mais explorado e bem trabalhado do que apenas sustos sem sentido e mortes. Não deixem de assistir. É um filme que não traz apenas demônios paranormais, mas também os que vivem dentro de nós.

Até.

Incident in a Ghost Land – Review

Oi,

 

Me recomendaram esse filme esses dias e quando fui pesquisar e vi que era do mesmo diretor de Martyrs (2008), que é um dos meus filmes favoritos da vida, fui correndo baixar e fiquei morrendo de vontade de assistir. Para minha surpresa, bem diferente da maioria dos filmes, ele já começa num ritmo frenético e continua assim até o fim, deixando pouco tempo pra respirar e absorver o que está acontecendo. Lógico que comparando com a obra-prima que é Martyrs, deixa um pouco a desejar porém eu achei excelente e foi um dos melhores que vi esse ano até agora.

Incident in a Ghost Land (Ghostland), 2018 – Escrito e dirigido por Pascal Laugier, o filme conta a história de Colleen (Mylène Farmer), que após a morte de sua tia herda a casa da falecida e se muda pra lá com suas duas filhas: Beth e Vera (Crystal Reed e Anastasia Phillips). Logo na primeira noite na casa, a vida das 3 muda de uma forma trágica e isso acaba afetando as personalidades das duas meninas profundamente pra sempre. O filme já começa impactante e te deixa hipnotizado. A sensação de tensão, medo e desespero é passada perfeitamente para o espectador. Laugier sabe como ninguém como torturar e prender o seu público na cadeira. Aprendi isso em Martyrs. Ele não pega leve na hora de pesar a mão na brutalidade e não tem medo nenhum de traumatizar quem está assistindo. Um roteiro digno de deep web. As atuações são super afiadas e o filme é bem dinâmico e preciso. Não fica chato nem cai no tédio em nenhuma parte. Não posso deixar de citar que logo na primeira cena do filme Lovecraft é citado e já me conquistou, porém não achei que tiveram tantas referências como eu gostaria. Indigesto, perturbador, doentio e cruel. Ainda levanta algumas questões sobre alguns problemas psicológicos. Como quando uma pessoa que sofre algum trauma, inconscientemente, acaba usando sua própria mente como refúgio. Não deixem de assistir.

 

Até.